diário #20240315

Não consigo escrever com outra pessoa na mesma divisão, não consigo dormir com alguém encostado a mim. Às vezes lampejam-me dúvidas se serei psicopata ou sociopata, mas li demasiados livros sobre o assunto para saber que não, não há hipótese nenhuma de isso ser verdade. Às vezes sinto que gosto de coisas diametralmente opostas ao que devia gostar. Sinto me zen e não sei o que fiz para isso. Devia sentir-me muito só e não sinto. Devia revoltar-me contra uma série de coisas mas já não lhes dou o valor que daria noutra altura. Pairo sobre a realidade. Nada me aborrece ou entusiasma muito e não é dos comprimidos. No verão terei de voltar a pintar as unhas dos pés de preto porque já tenho outra vez uma unha negra. Unha negra é um bom título para uma cena qualquer. Continua a querer ter um colar de mafioso, o penchant for all things masculine, nossa senhora da testosterona me valha. Calar-me e não escrever é passar a mão pelo pelo e reforçar-me que fiz bem em nunca tentar fazer o que quer que seja que não obedecer. Porque choras mesmo sabendo que tens razão? Porque sabes que ter razão não importa, serás sempre prejudicado, dominado, abafado, por falares, pensares, sentires. Existes de forma errada. Tens medo e tens razões para isso. Fiz o meu caminho na lama e já não preciso que os meus pais gostem de mim, sou completamente indiferente aos seus sentimentos. Não preciso que gostem de mim, só que não me insultem. Vou fazer o jantar, das poucas cruzes que ainda carrego, estou cansada, é sexta-feira e a semana foi complicada para as articulações. Queria uma cerveja mas não há porque tem glúten.